Os lábios da sabedoria estão fechados, a não ser para os ouvidos da compreensão
O Kyblaion
Saber escolher
No mercado da espiritualidade, cada um vai tentar vender-te o seu caminho. Vão-te chamar a atenção com uma variação da seguinte promessa: “se vieres por este caminho e fizeres esta prática, vais deixar de sofrer”. A forma como embalam este dizer varia muito e é comum que depois de teres comprado e entrado no caminho descubras que as coisas são mais complexas do que parecem.
Uma chamada de atenção aqui. Com certeza já viste um programa de cozinha, daqueles em que os concorrentes competem para fazer o prato mais delicioso, certo? E tens consciência que não consegues avaliar o quão bom ou mau um prato é através do ecrã, não é?
Com os caminhos espirituais passa-se algo parecido. Só quem faz o caminho, é que está apto a falar dos resultados obtidos (com a obvia margem para o senso comum; não tens que entrar no culto suicida para te aperceberes que não queres aquilo para ti). Isto tanto invalida as palavras descrentes do investigador que escreveu o artigo da Wikipedia, como as daquele amigo que foi a um retiro de fim de semana e veio de lá convencido que trás no bolso a chave do céu. Nenhum deles “provou” devidamente o prato. Se estás a pensar entrar num caminho espiritual, vai ouvir — ao vivo, no youtube, num livro — alguém que realmente o percorreu e chegou até à terra prometida desse caminho.
E uma segunda chamada de atenção. Saltitar de caminho em caminho é um bocadinho como ir aprender umas palavras de espanhol, depois outras tantas de polaco, daí passar para o árabe, e daí em diante. É importante e útil passar por esta variedade no inicio, para perceber com qual via te identificas. Mas se quiseres fazer realmente progresso nalguma delas, aí tens que te focar. Se não, podes fazer mil e um retiros, palestras e sessões, mas sem chegares a lado nenhum. Se escolheres um caminho espiritual decente, ele há de ser completo em si mesmo. Percorre-o com determinação.
Mais uma vez, o espaço para o senso comum mantém-se. Se até estavas a gostar no início, mas a família e os amigos começam a chamar-te a atenção que estás a ficar esquisito (o que não é necessariamente mau, tendo em conta o que é considerado por normal nos dias de hoje), ou se começas a discordar das práticas ou da conduta, então nada te impede de largar esse caminho e de encontrares outro.
Saber olhar para os caminhos
No caminho espiritual vão sempre oferecer-te:
Uma visão — aquelas respostas sobre o que é realmente o universo, do porquê de estarmos aqui, e todas essas coisa
Um Objetivo — Normalmente, a sua versão da “Iluminação”, aquilo que um adepto deste caminho pode esperar
Métodos — Um conjunto de práticas, nascidos da visão, que te levam em direção ao objetivo.
Por exemplo, no mundo do yoga temos tradições que vêm o mundo como sendo real, e outras como sendo uma ilusão. Embora ambas tenham como objetivo a fusão com o divino, para as primeiras isto pode ser feito através dos sentidos, enquanto para as segundas os sentidos são um empecilho nesse caminho.
São três perguntas boas para fazer a quem te está a vender esse caminho que consideras seguir:
Qual é a sua visão sobre o mundo/Deus/o ser humano.
Qual é o objetivo deste caminho?
Com que métodos se faz o caminho na direção do objetivo.
No próximo capítulo do nosso guia, vamos ver quais alguns pontos em comum dos vários caminhos espirituais, para te ajudar na tua decisão!