Rotinas de conexão 0/13

Esta série é especialmente dedicada a Hesus, senhor dos carvalhos e da sabedoria que vem deles. Que ele possa abençoar aqueles que procuram regressar ao mundo natural. Peço também a benção de Niwalen para este início.

Para este post tenho também que deixar um agradecimento muito especial a Jon Young e à sua linhagem de mentores. Foi através dele que chegou até mim aquilo que vou partilhar convosco.

“Sinto que não sou daqui. Às vezes olho para o céu e peço que me levem de volta para casa”

Foi no final de uma vivência de dança Xamânica que ouvi alguém dizer isto. Era um sentimento que me era familiar, embora já não vivesse comigo. Quando era bem mais novo também sentia que não pertencia. Que estava desenquadrado no mundo.

Agora estou muito melhor. Continuo desenquadrado da sociedade, mas tendo em conta o estado, vejo isso como um sinal de saúde. Em relação ao mundo, nunca me senti tão próximo dele.

E as rotinas de conexão foram fundamentais para essa viagem.

É uma questão de conexão

A diferença entre fazer e não fazer parte do mundo é uma questão de conexão. Se estamos ligados, sentimos que fazemos parte. Se não estamos, sentimo-nos desenquadrados. Vivemos a mesma festa de forma diferente se formos com um grupo de amigos, ou se não conhecermos ninguém. A diferença é a conexão.

Quando vivemos toda a vida em jaulas de cimento, em que a natureza é uma coisa lá fora onde vamos fazer visitas pontuais, é natural que não nos sintamos ligados a ela.

E sem estar ligados ao mundo vivo de onde nascemos, ficamos de certo modo órfãos. Sem estar ligados ao mundo, é fácil perder a ligação com o nosso interior e com aqueles que nos rodeiam.

No entanto, esta questão da conexão é um problema quase exclusivo das culturas ocidentais e ocidentalizadas. Não há nenhum população nativa nenhuma que sofra desta maneira.

Como é que certas culturas mantêm viva a conexão à natureza de geração em geração? Porque é que a nossa não o faz?

Esta foi a pergunta da qual nasceram as rotinas de conexão de que vos vou falar.

Em poucas palavras, havia um rapaz nos Estados Unidos chamado Jon Young. Ele tinha tido um mentor chamado Tom Brown, que por sua vez tinha tido como mentor um ancião Indio.

E Jon reparou que tinha uma visão do mundo, da natureza muito diferente das pessoas que o rodeavam. Isso acabou por o levar a estudar antropologia, para tentar perceber o que é que estava a faltar na nossa civilização.

Nessa pesquisa, ele foi em busca de comportamentos de conexão que aparecessem em tribos de pelo menos três continentes. A ideia era que se um comportamento só resistiria a milénios de migração humana se fosse realmente importante.

Dessa investigação, e do trabalho prático com esses comportamentos que identificou, nasceram as rotinas de conexão.

Rotinas enquanto caminho de volta a casa

É destas rotinas que vou falar. Porque elas são um caminho de volta para o mundo. Um caminho familiar, que os teus ancestrais desde o início do tempo que percorrem, e que também está aberto para ti.

Estas rotinas devem tornar-se parte da tua vida. Tal como lavar os dentes. Tal como tomar banho. Para a tribo mais antiga que há registo — os Bushman do deserto Kalahari — a conexão é como uma corda que nos liga ao mundo, aos pássaros, às arvores, aos outros. E essa corda começa como um fio pequenino e à medida que se partilham experiências vai-se tornando cada vez mais forte.

Estas rotinas são uma forma de criar e engrossar essa corda de ligação.

As 13 rotinas

Apesar de haver mais, são 13 as rotinas de conexão principais. É sobre elas que os próximos artigos da série se vão focar:

  • Poisar – Escolher um sítio, e visita-lo todos os dias, a diferentes horas, tomando atenção.
  • Meditação nos sentidos – Práticas que nos acordem e nos levem para uma vivência profunda dos sentidos
  • História do dia – Falar/escrever sobre a vivência no Poiso, ou outra vivências na natureza
  • Seguir pistas – Questionar sobre o que estamos a absorver pelos sentidos, e seguir pegadas e outras pistas de animais
  • Movimento animal – Aprender com os animais através do movimento
  • Vaguear – Andar sem destino nem tempo
  • Mapear – Desenhar zonas por onde andamos
  • Explorar guias de campo – Ou falar com gente com experiência na natureza, o objetivo é aprender e ser capaz de reconhecer o que se vê lá fora
  • Tomar notas – Escrever sobre as vivências na natureza e sobre o que descobrimos nos guias de campo. 
  • Sobrevivência/Primitivismo – Sobreviver no mundo natural só com o que se consegue ir buscar a ele
  • Imaginar com os olhos da mente – Imaginar de forma vívida as coisas que encontramos no mundo
  • Linguagem dos pássaros – Aprender a forma como os pássaros reagem ao ambiente
  • Agradecer – Criar espaço para a gratidão na nossa vida.

Elas vêm muito bem explicadas no livro “Coyote’s Guide to Connecting with Nature”, que recomendo a quem quiser aprofundar este campo.

Há também o Kamana Naturalist Training. Um programa com quatro níveis. O primeiro nível demora 15 dias a fazer e é absolutamente mágico.

Começando no Poiso, nas próximas semanas vamos aprender sobre estas rotinas, e sobre formas de as viver. Todas as 6ª sairá uma nova. Até lá!

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