Nesta série de posts, vamos falar de uma série de rotinas ancestrais que nos levam de regresso à Natureza. Nasceram de uma busca da resposta à pergunta “como é que certas culturas mantêm viva a conexão à natureza de uma geração para a outra?”. Se quiseres saber mais sobre este tópico, e ver todos os posts da série, clica aqui
As nossas histórias podem impedir-nos de estar presentes.
A nossa experiência da realidade, a nossa capacidade de estar presente é filtrada pelas nossas histórias.
Por vezes, a beleza puxa-nos até ao presente — um por do sol, o topo de uma montanha, alguém que amamos — e por momentos experienciamos, mas isto nem sempre acontece.
O objetivo da rotina de hoje é criar esta capacidade de presença de forma consciente. Criar uma ponte que nos leve mais para junto das coisas.
Se fores até ao teu poiso, mas o teu foco forem apenas os teus pensamentos, então a conexão que vais criar vai ser principalmente com aquilo que pensas, e não com o que está à tua volta
Os sentidos são uma ponte para o real
Então, como usar os sentidos para ficar presente? É isso que vais aprender agora. Abaixo seguem as instruções para a meditação dos sentidos.
Vamos um sentido de cada vez, experimentar estar presente nele. Cada sentido tem um animal padroeiro, que nos ajuda a perceber o tipo de atitude adequado.
Olhos de coruja
- Começa por fitar o horizonte.
- Depois, estica os teus braços à tua frente. Deixa que eles abram para o lado, e que a tua visão estique na direção da periferia. Sem mexer os olhos, acompanha o movimento das mãos — queres aperceber-te de até onde consegues realmente ver.
- Depois, volta a trazer os braços ao centro e move um deles para cima e o outro para baixo. Queres aperceber-te de quanto consegues ver do chão e do céu.
- Deixa os teus braços relaxar, e mantém-te com a visão descontraída. Permite que tudo o que está a acontecer entre na tua percepção, sem estares com o foco em nenhum ponto em especial
- Com alguma prática vais conseguir ficar logo presente na tua visão periférica sem usar os braços, mas nas primeiras vezes eles são uma ajuda grande.
Ouvidos de veado
- Fecha os olhos, e foca-te na audição.
- Começa por levar o foco para a área à tua frente. Qual o som mais suave que consegues ouvir ai? E o mais alto?
- Repete para a tua esquerda, as tuas costas e a tua direita.
- Depois, deixa que a tua percepção de som ande à volta, nas quatro direções, procurando chegar a um ponto em que estás presente em toda a tua volta ao mesmo tempo.
- Em seguida, mantendo este foco na audição, abre os olhos. Volta aos olhos de coruja, e percebe se consegues manter a audição e visão completamente ativos ao mesmo tempo.
Nariz de cão
- Fecha os olhos, deixa que os sons saiam do centro da tua atenção e foca-te no teu nariz.
- Experimenta a fazer várias inspirações curtas mas fortes, para ativares a capacidade de olfacto.
- Depois, manda o ar todo fora, e faz apenas uma inspiração bem longa e profunda.
- Respira um bocadinho pela boca e mastiga o ar. Há algum sabor no ar?
- Qual das duas funciona melhor? Consegues manter o foco nos cheiros que descobriste com a respiração normal?
- Com este foco na respiração e nos cheiros que chegam até ti, volta aos olhos de coruja e aos ouvidos de veado. Consegues estar presente neste três sentidos ao mesmo tempo
Mão de guaxinin
- Vais voltar a fechar os olhos, mas agora vais levar a atenção até ao teu corpo.
- Sente as tuas mãos. Que texturas é que elas sentem? Consegues sentir o ar em redor delas?
- Vai até ao corpo, e sente a roupa. A forma como as meias e os elásticos te apertam. As zonas em que a roupa roça em ti e a forma como se move com a tua respiração
- Nota também onde a tua pele está em contacto com o ar. Consegues sentir o vento a soprar? Como está a temperatura? Consegues notar a humidade?
- E agora vai para dentro. Como está o teu interior? A tua postura? Tens tensão nalgum músculo? Viaja pelo corpo, começando pelos pés, e nota tudo o que se passa dentro de ti.
- Deixa que a tua consciência se espalhe pelo corpo, desde os ossos até à pele, consciente de tudo o que está a acontecer com o teu corpo
- Depois, regressa aos olhos, ouvidos e nariz. Consegues estar presente no teu mundo interno e externo? Consegues sentir a forma como o teu corpo encaixa parte do ambiente onde estás, tal como as árvores e os pássaros?
Podemos estar tanto tempo quanto o nosso corpo pedir nos sentidos
O que é que notaste que acontece aos teus pensamentos quando fazes este exercício?
Este exercício da meditação nos sentidos deve ser feito todos os dias, quando vais para o teu poiso. Ajudar ter um cronómetro, e começar por cinco minutos, e daí dez, quinze e quanto quiseres.
Se quiseres ter uma prática mais alargada, podes ter gatilhos — isto é, certos acontecimentos que te recordem de ir visitar os sentidos.
Quando passa um avião, quando passas por uma porta, quando sais de casa, quando o telefone vibra. Deve ser um acontecimento que aconteça com alguma frequência e que te lembre de vir até ao mundo real, de vir até ao que estás a viver.
Durante esta semana, experimenta fazer esta meditação nos sentidos quando fores ao teu poiso. De que maneira é que isso muda a tua experiência lá?
Para a semana vamos falar de como podemos usar as nossas histórias como aliadas para aprofundar a nossa experiência de conexão. Até lá!