Poiso

Nesta série de posts, vamos falar de uma série de rotinas ancestrais que nos levam de regresso à Natureza. Nasceram de uma busca da resposta à pergunta “como é que certas culturas mantêm viva a conexão à natureza de uma geração para a outra?”. Se quiseres saber mais sobre este tópico, e ver todos os posts da série, clica aqui

No caminho para a conexão à Natureza, poisar é o primeiro passo. 

Tal como um pássaro, que encontra um poleiro alto de onde olhar o mundo. Ou um gato que pára à saída da porta antes de sair de casa.

Poisar é parar, escolher um sítio e tomar atenção. Deixar que o outro lado se mostre e estar presente para o ver.

Para criarmos conexão, é fundamental estarmos presentes. Um pouco como uma criança que faz o seu primeiro amigo, ter um sítio onde poisar vai-te dar a base e a segurança para te conseguires ligar ao mundo. 

Um poiso (no inglês original chama-se Sit Spot) é um local onde vais todos os dias. Que vais conhecer intimamente. Que vai ser a tua âncora para te ligares ao mundo natural.

Poisar é simplesmente escolher um sítio, e passar a conhece-lo intimamente

É, de todas as rotinas de conexão, a base. Aparece em várias culturas ancestrais e junto com a história do dia, vai ser a base da tua jornada de conexão. A folha sobre a qual vais escrever a história do teu regresso ao mundo. De todas as práticas que tive, esta foi a mais importante, e a que mais me ensinou. 

Criar esta rotina é simples, bastam dois passos:

  1. Escolhe um sítio
  2. Regressa a ele todos os dias. 

O segundo passo é simples, o que não significa que seja fácil. Ter essa rotina de ir poisar, parar, todos os dias. Tirar um momento para ti e para a tua conexão ao mundo vai ser fundamental na tua jornada, e nada substitui isso. 

O fundamental é escolher um sítio onde seja fácil regressar todos os dias

Em relação a escolher o sítio, eis o que deves procurar:

  1. Proximidade – Se não for perto, não serve de nada. Se for longe, vais ter todas as desculpas para não ires. Há quem lide bem com um sítio 5 minutos a pé. Há que consiga fazer os 15. Eu tenho o meu no meu quintal, bem perto da minha porta de entrada, depois de ter tentado e usado outros mais longe, mas aos quais inevitavelmente deixava de ir. 
  2. Segurança – Tem que ser um local onde te sintas seguro. Onde possas estar realmente presente, sem medos – seja isso o medo de alguém que possa aparecer, ou da árvore em perigo de cair, ou dos cães vadios que por lá andam. 
  3. Natural – Quanto mais natural o sítio, melhor. Mas a Natureza está inesperadamente perto! Pode ser um par de árvores num parque, Ou pode ser um lago com vida luxuriante. Tem que ser na rua, e de preferência com árvores. 
  4. Diverso – Quantos mais habitats tiver, melhor. As zonas de fronteira são sempre as mais ricas. Onde a floresta se encontra com o rio, que ao lado em um campo agrícola vai ser um sítio com mais vida e mais por onde explorar do que uma zona monótona.

Com estas quatro direções, já deves ter uma ideia de qual o sítio onde faz sentido criar o teu poiso

Deixa que o sítio fale contigo, que a conversa tenha dois sentidos

Depois de identificares a zona, há um exercício que te vai ajudar a encontrar o sítio, chama-se caminhar intuitivo. É muito simples:

  • Para, relaxa e fecha os olhos. Vai até à tua respiração, e deixa-te ouvir os sons à tua volta, deixa-te sentir o que está debaixo dos teus pés. 
  • Envia a tua intenção ao local – queres encontrar o sítio onde te podes sentar para o conhecer. 
  • Acolhe a resposta do local, e deixa que haja espaço em ti para a possibilidade deste sítio te estar a convidar para ir ter com ele. 
  • Deixa-te vaguear, sem medo de sentar, sem medo de ir e explorar vários sítios, até encontrares um em que te sintas bem. 
  • Quando escolheres o teu sítio, senta-te e fica aí, a observar

Lembro-me da primeira vez que fiz isto. Não tinha uma zona definida onde queria estar, e o caminhar intuitivo levou-me a muitos sítios diferentes. A um local com pistas de javali. A um sítio onde vi dois corvos lutar. A recantos de carvalhos escondidos. Para mim encontrar o meu poiso da primeira vez demorou vários dias, e em todos eles descobria algo novo. Ficava sentado alguns dias, até sentir que era a altura de mudar. Até que cheguei ao sítio onde decidi querer ficar, num lago perdido, encravado entre eucaliptos, um campo agrícola e uma zona de pinhal. 

Da segunda foi mais rápido. Tinha uma zona mais pequena onde queria ficar, junto a um rio, e demorei algum tempo a caminhar junto dele até descobrir a prainha que me acompanhou durante muito tempo. 

E da terceira vez que o fiz, foi a mais rápida. Sabia bem o que queria – ficar bem perto de casa. Andei um pouco até chegar ao sítio que me pareceu o correto, e lá fiquei. 

O que importa neste exercício é deixar-te andar sem expetativas. Vais ver que a zona que escolheste tem muito mais para te mostrar do que imaginas. 

Só tens que estar presente

Depois de escolher o sítio vem a pergunta, então e o que é suposto eu fazer? A primeira coisa é ir com a atitude certa, bastando para isso curiosidade. Eu gosto de levar uma caneca de cacau, e ir olhando para o que se passa nesse dia enquanto o bebo. E isto é quanto basta. É como ir ter com um amigo. Não têm que ir fazer nada, basta estarem juntos, e talvez partilhas as vossas novidades um com o outro.

Experimenta fazer isso uma esta semana e perceber como te sentes. 

Para a semana que vem, vou-te ensinar uma forma de te tornares ainda mais presente no local.

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