Falar da iniciação com uma música do Quim Barreiros.


Vou-vos contar um segredo. Não há nada que funcione tão bem como um exemplo mundano para falar de coisas esotéricas. A lei da correspondência faz questão que assim seja.

E como vou fazer um encontro de Iniciação à Espiritualidade, está na altura de partilhar o que essa palavra, Iniciação, realmente significa. Para isso, vou pedir a ajuda do Sr. Quim Barreiros.

Um dos seus clássicos, a Garagem da Vizinha, acompanha-me, por via das festas da aldeia, desde a mais tenra infância. Eu, nessa altura em que a minha idade ainda se contava pelos dedos das mãos, achava piada à musica. Tinha um ritmo bom, era fácil de cantar e a história era engraçada. A vizinha era boa pessoa e o senhor sabia dar valor à sua bondade, até cortava o mato à porta e tudo.

Ora bem, este ponto de vista inocente, só é possível para alguém que não esteja iniciado no mundo da sexualidade. Aliás, ainda me lembro do dia em que, anos mais tarde e já entrado na puberdade tive o meu momento de realização sobre o que música realmente significava. Fez-me olhar para todas as vezes que a tinha cantado na infância com outros olhos e algum constrangimento.

Mas isso foi, com certeza, o impacto menor que essa iniciação à sexualidade, imposta pelo próprio corpo teve. De repente, todos os meus pensamentos mudaram. As coleguinhas da escola passaram a ser vistas com outros olhos. Descobri que o meu corpo conseguia fazer coisas com as quais nem sonhava. E tive a minha primeira paixão. E mais tarde a primeira relação. E depois quando descobri o Tantra percebi que ainda havia mundos para explorar.

Tudo isto — desde o perceber que a música do Quim tinha um segundo sentido, à riqueza que é o relacionamento em que estou, só foi possível porque o meu corpo passou por um ritual iniciático chamado puberdade.Mas se foi a puberdade que tornou possíveis estas experiências, foram as minhas ações que me levaram até elas. Aliás, até ali aos 18 anos eu sonhava e pensava no quão bom seria estar num relacionamento, mas estava de tal modo preso na minha timidez que não agia de todo nesse sentido. Sabia que era possível, mas não tomava os passos necessários para fazer acontecer.

E isto é a noção chave sobre as iniciações. Quando são realmente intensas, elas mudam a forma como vemos o mundo. Mudam a forma como nos vemos a nós mesmos. Abrem-nos portas para mundos novos, para experiências e significados que sempre estiveram lá em potência, de tal modo que ficamos surpreendidos por nunca as termos descoberto. São uma porta para um mundo novo

Mas depois de ser iniciado, depende das nossas ações o atravessar dessa porta e ir ao encontro desse mundo novo. A iniciação pode abrir-te o caminho para o paraíso. Mas o percurso até lá depende da tua vontade de caminhar.

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